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"Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem. (Bertold Brecht)"

sábado, 2 de julho de 2011

Educação e renda

Entre todos os gastos sociais feitos pelo governo, investir em educação é o que mais faz o país crescer. Além dos conhecidos efeitos de longo prazo, como combater o analfabetismo e formar uma população mais instruída e produtiva, o dinheiro aplicado em educação no curto prazo movimenta a economia interna, estimulando o consumo e a produção de bens e serviços. O estudo Gastos com a Política Social: Alavanca para o crescimento com distribuição de renda, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), mostra que quando o governo gasta R$ 1,00 em educação pública, o PIB aumenta em R$ 1,85 e a renda das famílias aumenta em R$ 1,67.

O incremento do PIB e da renda é maior do que promovem investimentos em outros programas sociais, como os ligados à saúde e os de transferência de renda, como o Bolsa Família. Para chegar a esses multiplicadores, os pesquisadores cruzaram dados do Sistema de Contas Nacionais do IBGE, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) e avaliaram o quanto o incremento de 1% do PIB em cada programa social do governo aumentaria o próprio PIB e elevaria a renda das famílias. Quem explica os resultados da pesquisa é o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão.

Ensino Superior: De que maneira uma política social, como investir em educação, pode levar ao aumento do PIB e à melhor distribuição da renda?
Jorge Abrahão: Em geral, as pessoas olham a política social apenas como prestadora de serviços, fornecedora de bens e transferidora de recursos. Mas para colocar a política social em prática é preciso fazer um gasto público, ou seja, contratar professores, médicos, enfermeiros, psicólogos. Mais ou menos 4,7 milhões de trabalhadores são absorvidos - grande parte para a área de Educação. Quando se fazem essas contratações, quando se constroem escolas, postos de saúde etc. e, ao mesmo tempo, compram-se equipamentos e outros materiais para tal atividade, então esse movimento contribui para o crescimento do PIB.

ES: De que forma?
Esse gasto público vai para um conjunto da população que, em geral, são as classes médias ou médias baixas, que incrementam o consumo dentro do país, sendo importante para o fortalecimento do mercado interno. E aí vira um ciclo econômico. O professor, que vai receber seu salário, vai comprar no supermercado, na padaria, no açougue; todos vão para o mercado brasileiro fazer compras. Como a maioria desses produtos é nacional, isso gera um outro montante de emprego e de renda para outros setores, o que estimula a produção de novos bens, o comércio e os serviços. O gasto na política social alavanca uma série de outros vetores produtivos. É uma cadeia que move a economia e gera multiplicadores. Assim, a política social, além daquilo que promove em longo prazo, também gera no curto prazo um processo de crescimento econômico.

ES: O investimento em educação é o que aparece na pesquisa como sendo o que mais eleva o crescimento do país (PIB) e a distribuição de renda. Por quê?

A educação recebe mais ou menos 5% do PIB e tem um impacto muito grande na economia. É um dos setores mais gastadores, maior do que ela só a Previdência. A educação é responsável por dois milhões de empregos diretos, fora o consumo de materiais e da infraestrutura, ou seja, é uma cadeia grande de consumo. A importância de seu gasto é que a faz ter um maior multiplicador do PIB, o tamanho que ela representa.

ES: Quando se fala em educação, estão incluídos todos os níveis de ensino. Qual é o impacto nos investimentos ligados especificamente ao nível superior?

Nós não detalhamos isso na pesquisa, mas nesse caso o impacto pode ser menor. Ao supor que, dentro da cadeia da educação, o professor universitário é o que tem melhor remuneração e sendo seu padrão de consumo diferente daquele do professor do ensino básico, que acaba consumindo quase tudo o que ganha, o docente da educação superior tem uma estrutura que lhe permite poupar e também consumir bens mais sofisticados, muitas vezes importados. Então há vazamento de receita para o exterior. Quando acontece isso, o gasto deste professor é menos relevante para a economia nacional. Por isso, o gasto do professor da educação básica é o principal responsável pelo giro da economia interna.

ES: Mas programas sociais que investem no ensino superior também levam a aumento do PIB e da distribuição de renda?

Lógico, tudo o que é investido na educação leva ao aumento do PIB. Mesmo com um impacto mais sensível para a distribuição de renda e para a economia do país, estamos pensando apenas em um crescimento momentâneo. Mas a longo prazo precisamos olhar para outros vetores desencadeados pelo ensino superior, como desenvolvimento científico, tecnológico e inovação. É um outro lado positivo deste investimento não abarcado por esta pesquisa.

ES: Há áreas da educação superior mais propícias a afetar a economia?

O que importa é quanto o professor ganha e o padrão de consumo dele. E também o que se está gastando para que o ensino ocorra, os insumos que precisam ser comprados para fazer com que os cursos funcionem. Quanto mais necessita de produtos e equipamentos vindos do exterior, menos contribui para o crescimento do PIB. O curso que depende de menos insumos vindos do exterior tende a ter um maior multiplicador. Mas é preciso ter cuidado: a universidade gera pesquisa, desenvolvimento e inovação, por isso há também uma justificativa de investimento não pelo lado do consumo atual, mas pelo que se está gerando para o futuro. Na realidade, sabe-se que está gastando em um setor que não é tão bom para o consumo nacional e a produção nacional, mas que pode dar independência ao país no futuro.

ES: Em países mais desenvolvidos do que o Brasil, com maior PIB e melhor distribuição de renda, o investimento no ensino superior tenderia a ter um multiplicador maior ou menor do que o nosso?
Nos países desenvolvidos, os gastos por aluno que se tem com ensino superior e com ensino básico são muito próximos. Nas escolas de educação básica, o professor tem uma boa remuneração. O diferencial entre o professor da educação básica e o da superior é muito pequeno. O multiplicador é quase idêntico porque os padrões de consumo são muito parecidos.

ES: Mas e numa comparação entre o multiplicador que existe no Brasil e dos países desenvolvidos?

A educação é um vetor de crescimento em qualquer país, vai ter sempre um bom multiplicador. O nosso multiplicador da educação básica vai ser maior do que o deles porque lá há mais homogeneidade entre os setores educacionais. Na educação superior irá depender do país. Em um país muito aberto, quando há incentivo ao consumo dos professores, eles podem comprar só bens externos. Mas os países desenvolvidos não costumam ser muito abertos. Como a educação, em geral, tem um peso de mais de 5% do PIB em quase todos os países, o efeito multiplicador é muito bom, próximo ao nosso ou até melhor.

ES: Há elementos que a pesquisa desconsidera? A que fatores esse índice é vulnerável?
Esta pesquisa lê o mundo em determinado momento, mas não tem uma dinâmica. O setor da educação é muito grande. Para alterar positiva ou negativamente o multiplicador teria, como hipótese, que alterar significativamente o padrão de consumo dos professores. Se todos se transformassem em consumidores de bens estrangeiros, por exemplo, isso traria uma diminuição no multiplicador. Já uma crise econômica impactaria todos os multiplicadores, não só o da educação, porque as pessoas mudariam o padrão de consumo. Outra coisa que altera tudo isso é o câmbio. Se ele torna o consumo externo mais caro, o multiplicador dos setores que consomem muito do exterior pode aumentar ao se importar menos. Toda vez que subirem os salários, principalmente o dos mais pobres, esse multiplicador também aumenta, porque as pessoas passam a consumir mais.

ES: A demanda crescente por mão de obra qualificada faz com que, de alguma forma, o retorno que o investimento no ensino superior traz atualmente aumente ainda mais?
O ensino superior hoje é um fator central para a ampliação da melhoria da renda. Hoje não basta ter apenas o ensino médio, isso já não diferencia tanto quanto no passado. Estamos vivendo um momento interessante, em que o emprego formal no Brasil está sendo ampliado e alguns setores estão se ressentindo da falta de mão de obra. Mas isso não é algo que ocorre em todo o país. Esse é um dilema bom: falta de mão de obra por conta do crescimento. Ainda podemos corrigir isso de forma setorial e espacial. Fora o fato de que vai haver toda uma estrutura de incentivo para promover mais gente qualificada.

Créditos: http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=12775

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