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terça-feira, 10 de maio de 2011

Depois de quase 200 anos, a volta para casa

A cidade mineira de Jequitinhonha festeja esta semana o recebimento dos restos mortais do índio botocudo Kuêk, que em 1818 foi levado à Europa por príncipe alemão naturalista Eduardo Tristão Girão Uma viagem feita para a Europa em 1818 somente agora terá uma espécie de volta para casa. Levado para a Alemanha há dois séculos, o jovem botocudo Kuêk saiu de Minas Gerais com o príncipe alemão Maximilian Alexander Philipp Wied-Neuwied (1782-1867), que, além dos afazeres monárquicos, atuou fortemente como naturalista e etnógrafo. Uma de suas expedições teve como destino o Brasil, onde desembarcou em 1815. Por dois anos, Wied-Neuwied percorreu Minas, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Ele chegou a morar entre índios que viviam às margens do Rio Jequitinhonha, onde fez amizade com muitos deles, especialmente com Kuêk. O indígena teria ajudado o príncipe alemão a registrar costumes, língua e hábitos dos botocudos, além de colaborar na elaboração de dicionário da língua botocuda. Depois de 16 anos vivendo na Europa, o índio morreu vítima de alcoolismo. Seu crânio serviu para experiências na Universidade de Bonn, na Alemanha, onde se encontrava em exposição desde então. Reivindicados para devolução à tribo crenaque (oriunda do tronco dos botocudos), os restos mortais de Kuêk chegam esta semana à cidade mineira de Jequitinhonha, a 677km de Belo Horizonte, que vai comemorar seu bicentenário com conferências e debates. Os eventos ocorrerão entre sexta-feira e domingo. “O trabalho científico do príncipe, que achou em Kuêk um colaborador fiel e fonte de inspiração, é a maior contribuição resultante do encontro entre os dois. Entretanto, nenhum deles deixou um depoimento pessoal sobre esse relacionamento. Um autor alemão afirma em uma de suas obras que o botocudo não imaginava que não voltaria a rever seu país. E se pergunta: ‘O que esperava encontrar na terra do príncipe? Teria sido para o príncipe somente uma espécie de ‘animal para experiências’ ou, de fato, tornara-se um amigo, um acompanhante, a quem devia ser dada uma nova existência?’. Nenhum dos dois deixou essas respostas”, diz a curadora do evento, Solange Pereira. O que ocorreu com o índio Kuêk, explica a professora Christina Rostworowski, autora da dissertação O príncipe Maximilian de Wied-Neuwied e sua viagem ao Brasil, não era algo comum no início dos anos 1800, mas tornou-se prática bastante difundida na segunda metade daquele século. “Os espetáculos envolvendo o que se convencionou chamar de ‘exótico’ não se restringiam aos índios, mas também aos não europeus de um modo geral.  (Continua)

Crédito: http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=19287

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