A Faculdade Barretos, juntamente com o coordenador do Curso de Licenciatura em História da Faculdade Barretos, dão as Boas Vindas a todos os alunos para o ano letivo de 2012! Sejam Bem Vindos!
"Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem. (Bertold Brecht)"

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Nos caminhos do diploma

Kleber Silva, Juliana Nascimento, Maria Aparecida Dias, Pablo Ferreira da Paixão e Marcio Sebastião Pereira estudam administração de empresas em São Paulo O professor José Carlos Pereira de Almeida aproveita o silêncio dos alunos, que vão tentando resolver exercícios de sala, para anunciar a data do exame de planejamento tributário, a matéria que ele ministra para o terceiro ano de contabilidade da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo. O exame será realizado na semana seguinte ao feriado de Páscoa. Sem surpresa, a notícia gera protestos nos alunos que planejavam viagens. Mas o professor dá uma justificativa: "Vocês vão ter quatro dias sem aula e sem trabalho para se preparar. Viram como sou bonzinho?" O argumento é bem recebido por muitos dos estudantes, sobretudo aqueles que saíram diretamente do emprego, às 18h, para a aula, com início às 19h. O intervalo é curto demais para trocar a roupa ou completar os exercícios passados pelo docente na aula anterior. "Se o senhor tivesse chegado pelo menos um pouquinho atrasado, eu teria tido tempo de terminar", diz, para divertimento dos colegas, uma aluna que estava na sala uma hora antes do início do curso, resolvendo as perguntas. Ela veste uma jaqueta com o logotipo da empresa em que trabalha e admite que, da quinta questão em diante, a folha de exercícios está em branco. Os cursos noturnos de universidades particulares são o universo mais representativo da expansão do ensino superior brasileiro nas últimas duas décadas, tanto em sua expressão meramente numérica - passou-se de 1,6 milhão de universitários no país em 1994 a 3,6 milhões em 2002 e 5,95 milhões em 2009 -, quanto em sua expressão econômica. No Brasil, um país com índice de alfabetização persistentemente baixo e ensino público de qualidade duvidosa, embora caminhe para a universalização, o diploma se configurou tradicionalmente como um símbolo distintivo das classes dirigentes. Na última década, os dados revelam uma mudança no quadro, ainda que tímida. Os novos estudantes das universidades brasileiras vieram majoritariamente de outros universos socioeconômicos além das elites. Entre 2002 e 2009, a proporção de universitários oriundos das classes C e D, conhecidas também, respectivamente, como "classe média baixa" e "classe baixa", subiu de 45,3% para 72,4%. A cifra referente à classe D é mais notável: de 5% dos alunos apenas, passou-se a 15,3%. Apesar dos custos consideráveis com mensalidades, transporte e materiais, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que 76,6% das vagas universitárias brasileiras, em 2009, pertenciam a instituições de ensino particulares, que, com exigências menores de entrada, são acessíveis a jovens oriundos do sistema público de ensino. Graças a bolsas, ensino a distância e outros programas, esses jovens aproveitam a oportunidade: segundo a consultoria Data Popular, especializada em negócios voltados para as classes C e D, embora 37% dos jovens da classe C aspirem ao diploma universitário quando saem da escola, apenas 27% ambicionam uma vaga em universidades públicas e gratuitas. "Se o senhor tivesse chegado pelo menos um pouquinho atrasado, eu teria tido tempo de terminar", diz a aluna que não fez todos os exercícios Nem só de jovens recém-saídos do ensino médio vivem as universidades. Marcio Sebastião Pereira, aluno de administração no Centro Universitário Anhanguera, em São Paulo, tem 45 anos e uma história de vida característica de muitos trabalhadores da indústria. Filho de um eletricista de manutenção que trabalhou durante 25 anos nas indústrias Matarazzo e jamais passou da quarta série, seguiu os passos do pai, cortou os estudos aos 12 anos e foi trabalhar no setor de expedição de uma fábrica de produtos alimentícios. Hoje, é operador de empilhadeira para uma indústria de autopeças e entrevê a possibilidade de obter cargos melhores graças ao diploma universitário, em seguida à conclusão do ensino médio. "Gosto da área em que trabalho e vejo que existem muitas vagas sendo abertas para profissionais diplomados", conta Marcio. "Entrei no curso de logística e não ajudou muito, então agora estou na administração." Como Marcio, muitos dos inscritos em cursos superiores almejam resultados práticos e rápidos no mercado profissional. O aumento proporcional das classes C e D na universidade acompanha a trajetória de ascensão social vivida no Brasil na última década. De acordo com dados do IBGE, a classe C, cuja renda está entre quatro e dez salários mínimos, passou de 37% da população brasileira em 2002 a 49,7% em 2009. Ou seja, obteve-se uma classe média com mais de 95 milhões de pessoas. Famílias até então excluídas dos principais benefícios da sociedade de consumo passaram a ter acesso, por meio de melhores salários e crédito mais abundante, a produtos de grife, eletroeletrônicos e viagens de avião. A inserção no ensino superior, porém, tem implicações mais amplas do que o acesso ao consumo. Dentre os novos membros da classe média brasileira, aqueles que entram no ensino superior são, na maioria das vezes, os primeiros membros da família a chegar à universidade. (Continua)

Crédito: http://www.valoronline.com.br/impresso/cultura/111/413483/nos-caminhos-do-diploma

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