A Faculdade Barretos, juntamente com o coordenador do Curso de Licenciatura em História da Faculdade Barretos, dão as Boas Vindas a todos os alunos para o ano letivo de 2012! Sejam Bem Vindos!
"Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem. (Bertold Brecht)"

sábado, 4 de fevereiro de 2012

"Avaliar sem ter consequência não adianta"

Atualmente, as avaliações dos mais diversos níveis de ensino desempenham um papel fundamental no avanço da educação. Pensando no crescimento, nos últimos anos, do número de pessoas que lidam com a avaliação e que começam a vê-la como seu campo de atuação profissional, seja como pesquisadores ou como responsáveis pela condução das políticas de avaliação nos sistemas educacionais, além da disposição destes dois grupos de se relacionarem para aprender e maximizar o potencial dos seus trabalhos, foi criada a Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave).

Seu novo presidente, Ruben Klein, assume o cargo em 2012 pensando em dar prosseguimento ao trabalho que já vem sendo desenvolvido. De acordo com ele, as avaliações devem ser utilizadas sempre a favor da melhoria da educação. Apesar de garantir que as metodologias empregadas no Brasil são modernas e não deixam nada a desejar em relação aos países desenvolvidos, Ruben ressalta que ainda falta aplicar os diagnósticos obtidos através das avaliações. "As avaliações estão mais ou menos consolidadas, o que falta é usar os resultados em busca de melhor qualidade. E, claro, o monitoramento para ver a continuidade", comentou.
O presidente da Abave, cujo mandato vai até 2014, ainda falou sobre assunto relativos ao Enem, Enade e Saeb. Além disso, ressaltou a necessidade de implantar sistemas de avaliações na pré-escola e para professores, com sistemas de bonificação para os docentes com bom desempenho nos testes.
FOLHA DIRIGIDA — Que tipo de ações a Associação promove e quais são os seus planos à frente da Abave?
Ruben Klein — Pretendo continuar o trabalho que já vem sendo feito. Somos uma associação científica sem fins lucrativos. Queremos estimular a pesquisa científica e a prática da avaliação voltada para o progresso e qualidade da educação. Para isso, promovemos o intercâmbio de experiências entre os educadores, pesquisadores e pessoas interessadas na área. Não tem carteirinha, nem nada. Qualquer um pode ser membro. Nossas atividades são, entre outras, reuniões, eventos, mesas redondas para debates, produção e publicação de artigos, troca de experiências entre pesquisadores, educadores e o pessoal das secretarias. Sempre procurando espalhar as ideias e as boas práticas da avaliações.
Atualmente, temos o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que, ao mesmo tempo, busca avaliar o ensino médio e ter outros objetivos, como selecionar para universidades e servir como instrumento de certificação. Não são atribuições demais para o Enem?
Enem é um assunto complicado. Ele não foi criado para avaliar o ensino médio, mas sim o indivíduo. O instrumento para avaliar o ensino médio é o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). O Enem, de uns tempos para cá, passou a ter várias finalidades simultâneas. Além de avaliar, também é usado para ingresso no ensino superior e certificação do ensino médio. Eu acho que é muita coisa. Na minha opinião, o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) deveria ser separado do Enem, que também é muito usado para das bolsas de estudos. Esta, talvez, seja uma de suas funções mais importantes, hoje em dia. Para o aluno poder concorrer, é preciso ter certo aproveitamento na prova. Então, com o tempo, mudou de caráter. Deixou de ser algo mais individual, que poderia ser usado ou não por determinada universidade. Penso que pode ser utilizado para qualquer uma dessas atribuições, mas está mais focado, atualmente, na questão das bolsas, eu diria. A avaliação do ensino médio, entretanto, é uma questão específica. O Enem não pode ser usado para isso. Não dá para fazer inferência sobre a população do ensino médio. Avalia, apenas, aqueles que estão terminando esse nível de ensino. Já o Saeb, tira uma amostra, mas está sendo esvaziado pelo Enem. Se o Enem fosse universalizado, passaríamos a ter uma avaliação do final do ensino médio.
Por que, a seu ver, acontecem tantos problemas no Enem?
O Enem é muito grande. E tudo que é muito grande, tem chances de acontecer alguma coisa errada. São 5 milhões de estudantes. A logística que envolve a prova é extremamente complicada. São dois dias de prova, então é como se fossem 10 milhões, na verdade. Além disso, é aplicado em âmbito nacional, no Brasil inteiro.
O senhor falou sobre o Saeb. Em que pontos ele difere do Enem?
O Saeb sempre se propôs a falar sobre a população de alunos brasileiros. Começou como amostra nos anos finais, já que o Brasil não tem currículo único. Só agora começamos a falar sobre isso. Precisamos estabelecer um currículo básico para todos. Algumas coisa devem ser opcionais, contemplando as especificidades regionais. Porém, Língua Portuguesa, Matemática e Ciências devem ser conteúdo universal. Ou seja, todo mundo, em todos os lugares do país, deve aprender a mesma coisa. Diferente de História e Geografia, por exemplo, que têm conteúdos universais e regionais. Para fazer uma prova e avaliar o ensino do país, o que existia e sempre existiu, era um consenso sobre o que os alunos deveriam saber quando chegassem ao final de cada segmento. Então, o Saeb foi desenhado para avaliar o 5º ano (antiga 4ª série), o 9º ano (antiga 8ª série) e a 3ª série do ensino médio, através de uma amostra de alunos de todas as redes, incluindo particular. É uma amostra estratificada de cada estado que permite avaliar cada um dos segmentos. O Enem, não. Ele é voluntário, só participa quem quiser. E mudou muito. Começou com 100 mil candidatos de dois ou três estados e foi crescendo. Mesmo assim, não representa nada, pois não sabemos quem está fazendo. Não dá para fazer inferência sobre a população dos estudantes, apenas sobre o desempenho individual de cada um deles. O Saeb foi ampliado com a Prova Brasil, que universalizou para as escolas públicas. Acho que deveria ser feito o mesmo com as particulares. Para saber como anda o ensino brasileiro, também temos que avaliar a rede privada. Não deve ter distinção, já que todos são alunos brasileiros. Ainda há mais uma diferença: o Saeb, atualmente, avalia apenas Língua Portuguesa e Matemática. Já o Enem, trata das ciências da natureza, que incluem Física, Química e Biologia, e ciências humanas, com História e Geografia.
É possível avaliar o ensino médio através de uma prova que só aborda conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática?
São duas disciplinas prioritárias. Tem que fazer de qualquer jeito, mas acho que poderiam ser incluídas outras também. Não precisa ser necessariamente no mesmo ano. Poderia ser da seguinte forma: em um ano faz Português e Matemática e no outro Ciências da Natureza e Humanas. O Saeb poderia fazer isso. Existiria uma variação todo ano, mas não das mesmas matérias. Sou favorável, porque precisamos começar a avaliar Ciências. O país que deseja crescer tecnologicamente, obrigatoriamente, tem que valorizar essa área. Não há como não fazer isso. Temos um perfil de aluno universitário muito ruim em exatas e tecnologias, que corresponde apenas a 20% do alunado, o restante são de humanas. Se olharmos os países asiáticos que estão crescendo tecnologicamente, 50% dos universitários são das engenharias. É uma desproporção muito grande. Como começar a mudar isso? Melhorando o ensino fundamental e médio. Se não promovermos e estimularmos o gosto por essas áreas desde a base, não teremos também no ensino superior. O superior é consequência do médio, que, por sua vez, é consequência do fundamental.
As avaliações da educação básica no Brasil seguem os mesmos padrões das realizadas nos países considerados desenvolvidos?
Sempre haverá diferenças, mas as metodologias empregadas nas avaliações aqui no Brasil são as mais modernas do mundo. São as mesmas utilizadas no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), nas avaliações americanas e europeias. Permite que façamos comparações ao longo dos anos, o planejamento que podemos aplicar em determinada parcela da população. Então, nesse ponto, o Brasil deu um salto muito grande, com ótimos resultados. O que precisa ser feito agora, é usar o diagnóstico obtido nas avaliações. Nelas estão embutidas análises de fatores importantes para um bom desempenho. Houveram avanços nas avaliações, agora é saber utilizar adequadamente os dados. Avaliar sem ter consequência não adianta. O objetivo final é implementar melhorias para o avanço da educação. As avaliações estão mais ou menos consolidadas, o que falta é usar os resultados em busca de melhor qualidade. E, claro, o monitoramento para ver a continuidade.
E, na sua opinião, isso já vem sendo feito? Os resultados estão sendo empregados na melhoria do ensino?
Está começando. No início havia muita resistência, mas hoje em dia boa parte dos estados e municípios já realizam avaliações. Conseguimos algo muito bom, que é a possibilidade de comparar os resultados na mesma escala. É uma coisa importante que nós conseguimos e os Estados Unidos, por exemplo, não. Lá, cada estado faz sua avaliação e ninguém conversa com ninguém. Finalmente, os resultados estão começando a serem usados. É claro que ainda é preciso muito mais. Existem certos fatores que precisam ser feitos. O Saeb, por exemplo, precisa incorporar aqueles alunos que estão sendo alfabetizados. Estamos começando a ver resultados no primeiro segmento. O Brasil melhorou um pouco o fluxo na década de 90, com menos repetências, e os alunos estão na idade correta, o que torna o trabalho mais fácil e se reflete na melhora do desempenho. Porém, acho que o segundo segmento ainda está um pouco emperrado. Não vou dizer que foi negligenciado, mas foi dada prioridade ao primeiro segmento. Como ele já está andando bem em boa parte do país, precisamos dar ênfase no segundo. Vemos que o aluno está entrando melhor, e a escola precisa corresponder oferecendo mais qualidade para que o aluno consiga progressos. O ensino médio é a dificuldade maior. O problema deste nível é que a matrícula está estagnada. Quando houve a queda de repetência na década de 90, mais gente começou a concluir o fundamental e entrar no médio. Mas essa melhora parou no final dos anos 90. Então, houve uma melhora por causa do fluxo de gente que entrou. É como uma onda: sobe, chega na crista e cai. Então, subiu, caiu e estabilizou. Se olharmos ultimamente, o número de ingressos na primeira série do ensino médio chegou ao pico, caiu e agora está estável.
Ainda falta uma avaliação para o desempenho e o aprendizado dos alunos na educação infantil e na alfabetização? Por que uma avaliação nesses segmentos seria importante?
Falta também ter avaliação na pré-escola. É bom começar mais cedo, mas é preciso ter qualidade. Não pode ser um local para deixar as crianças, é preciso desenvolver as habilidades motoras, preparar as crianças para aprenderem a ler, etc. A maior taxa de alunos na pré-escola, é no nordeste. Se tivesse qualidade, essa região poderia estar em uma situação bem melhor hoje em dia. A qualidade é fundamental. Vemos muitos especialistas dizendo que a pré-escola faz diferença. Em geral, as crianças que não passam por ela, têm um desempenho mais baixo. Qualidade é muito importante, mas é preciso identificar o que está bom e ruim para, a partir daí, trabalhar para melhorar. Nenhuma avaliação é capaz de englobar tudo que acontece. Isso é impossível.
Várias instituições de ensino superior reclamam do sistema de avaliação do MEC. A maior queixa é o fato de dar ao Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), um dos componentes e que depende da pré- disposição do aluno em fazer bem a prova, um peso muito grande. O senhor concorda com essa crítica?
As avaliações têm uma característica diferente dos concursos. No concurso o aluno se inscreve voluntariamente e tenta fazer o máximo possível para passar. O próprio Enem é assim, pois é voluntário, e os alunos que querem concorrer a uma vaga na universidade ou bolsa precisam dar o máximo de si. Com a avaliação é diferente. Existe a obrigação, mas não há como forçar o aluno a dar o melhor de si. Se o cara não quer fazer, não adianta. Nós levamos isso em conta na correção. Procuramos fazer algumas coisas que não acontecem nos concursos, como verificar se ele preencheu tudo direitinho, pois o prejudicado não seria ele, mas sim a avaliação. No concurso, não. Se, por acaso, preencher errado, o problema é dele e ninguém tem nada a ver com isso. Qualquer avaliação é capaz de mostrar onde estão os melhores alunos, mas se eles decidirem boicotar e entregar a prova em branco, não tem jeito. A faculdade também deve motivar os estudantes a darem valor para o Enade. De certa forma, pode acabar prejudicando os próprios alunos. Se eu vou procurar um emprego, a primeira coisa que vão olhar é onde me formei, em qual instituição fiz meu curso de graduação. O conceito da instituição que os próprios alunos fazem, é fundamental no mercado de trabalho. Se o conceito do curso no MEC for baixo, a pessoa será prejudicada. Então, boicotar o Enade é um tiro no pé. Existem vários argumentos para mostrar que é válido se esforçar e fazer a prova da melhor maneira possível, porque no fundo beneficiará o estudante. O Enade mexeu bastante com o ensino superior. Antigamente, não tinha nenhuma avaliação. Ele mostrou, e continua mostrando, que ainda temos muitas deficiências nesse nível. Obviamente, sabemos que muita coisa é em decorrência do ensino médio. O Saeb mostra que a maior parte dos alunos que entram nas universidades não estão preparados para tal. E o que fazem as instituições? Ignoram isso e seguem em frente. Melhoram um pouco, mas não pegam todas as potencialidades do estudante. Deveria ser feito um programa de nivelamento. Contudo, como o Enade passou a cobrar, estão mais atentos para isso. O que deve ser levado em conta também é quanto o curso contribui para o aluno, o que depende de como ele chegou até lá. Se pegarmos nas melhores universidades, os que estão lá são os mais bem capacitados e, como essas instituições costumam ter o melhor corpo docente, obviamente, o ganho final será maior. Tudo isso deve ser levado em conta. Na avaliação geral do MEC, o Enade tem um peso, mas o corpo docente, as publicações e outros fatores, também são consideradas.
Um tema que costuma dividir opiniões é o da avaliação para professores. É possível fazer essa avaliação? Que características deveria ter?
É uma área nova e difícil. O mundo inteiro está começando a ser mais pesquisado, mas é complicado. Não pode ser uma avaliação pontual. É necessário analisar o comportamento do professor ao longo de vários anos, em diversas turmas, pois há grande variação de desempenho. Acho que precisa ser avaliado sim, de alguma forma, se os alunos estão aprendendo, qual é o ganho de aprendizado que o professor dá aos estudantes, algo que não é trivial, o processo é bem complicado, e se o docente está bem informado sobre aquilo que ensina. Os professores precisam saber como e o que ensinar. Então, acho que é uma parte importante. Temos que começar a promover isso, até mesmo para valorizar os professores capacitados. Felizmente, estamos iniciando esse caminho.
Tem sido cada vez mais comum estados e prefeituras adotarem sistemas de avaliação de professores para conceder gratificações. O senhor concorda com essa prática?
Deve ser feito sim. Só é necessário ver os critérios para ser justo. Porém, acho importante diferenciar os melhores professores dos demais, aqueles que trabalham dos que faltam. Tem muito professor que falta na rede pública, mas não falta na escola privada. É preciso ter acompanhamento e ver quem funciona. Aqueles que estiverem muito mal, que têm problemas, não ensinam, devem ser afastados da sala de aula, porque é nítido que o trabalho deles não dará resultado. O problema é elaborar um sistema capaz de avaliar os professores. Não é uma coisa trivial, pois existem diversas variáveis. O aluno tem influência do seu passado, da família, da escola e de outros professores. Não há como isolar. É até um pouco mais fácil fazer isso no primeiro segmento, pois, geralmente, tem um único professor responsável por quase tudo. Depois fica mais complicado, mas é possível. Estão sendo feitas várias tentativas pelo mundo, testando algumas metodologias. O Brasil está começando a dar os bônus de acordo com o desempenho dos alunos, o que é diferente dos ganhos gerados pelo professor. Mas a ideia está começando a ser aceita, o que não acontecia há um tempo.
 
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