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"Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem. (Bertold Brecht)"

terça-feira, 31 de maio de 2011

Professora mais velha da USP tem 93 anos

Nem cinco, nem 20, nem 30 anos. Berta Lange de Morretes dá aulas na USP (Universidade de São Paulo) há nada menos do que 70 anos, completados em abril de 2011. Professora mais antiga da universidade ela é presença garantida entre os alunos de segunda a quinta-feira.

Doutora Berta, como é conhecida no Instituto de Botânica da USP, afirma que o bom professor tem que se preocupar sobretudo com o estudante. E reclama que os professores de hoje em dia não têm essa visão.
- Tem que ter um “sexto sentido”, conhecer a vida dos alunos. Não adianta chegar na sala de aula, “vomitar” matéria e ir embora. Gostaria que os novos professores tivessem essa ideia, mas não estou vendo acontecer.
Curitibana, Berta se mudou para São Paulo com a família em meados de 1930, quando o pai veio trabalhar como zoologista na metrópole. Sua história com a USP começou assim que chegou na cidade. Ela e e a irmã do meio, Ruth, ingressaram no curso de história natural em 1938, apenas quatro anos após aa criação da universidade.

Com 93 anos e uma excelente memória, a professora lembra do nome completo de todos os seus colegas de classe em 1938. Ela conta que passou dificuldades principalmente no primeiro ano dos quatro do curso. A habilitação era nova e a USP teve que “importar” professores estrangeiros, que não davam aula em português.
Mesmo com esse obstáculo, a turma de dez alunos se formou em 1941. Quatro deles foram nomeados professores da USP, entre eles Berta e Ruth. Desde então, a trajetória da professora vem sendo marcada por grandes acontecimentos.
Doutora Berta é conhecida por seu coração grande. A “solteira convicta”, como se define, reuniu os faxineiros do instituto há alguns anos e perguntou quem queria estudar. Nove responderam que sim, e tiveram a faculdade paga por ela. Um deles se tornou advogado, o que impressionou a professora.
Berta recebeu a equipe do R7 na sala que ocupa há 50 anos, desde que o prédio do instituto foi transferido da região central de São Paulo para a Cidade Universitária, no Butantã (zona oeste). A professora lembra, com saudosismo, que foi ela mesma quem deu o nome do edifício de André Dreyfuss, o primeiro docente alemão da USP a se esforçar para aprender o português.
A professora pode ser encontrada em sua sala durante toda a semana, exceto às sextas. Com certeza ela estará orientando algum aluno ou lendo um artigo – sem usar óculos, diga-se de passagem. Até hoje, Berta dá aulas de anatomia vegetal para estudantes de graduação e pós-graduação.
A professora se ausenta quando está em viagens de campo com os universitários. Mesmo andando com dificuldade e proibida pelo médico de entrar em áreas de mato, ela viaja com as turmas cinco vezes ao ano. Berta fica sentada no carro e os alunos levam as plantas para que ela faça suas análises e dê orientação.
Ana Maria Donato, professora da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e uma das ex-alunas de Berta, conta que a doutora era muito exigente, mas ao mesmo tempo carinhosa.
- A Berta se destaca, a meu ver, pelo coração enorme que tem, no qual abriga tantos amigos e orientandos. Ela não descarta nenhuma proposta [de trabalho] que você faça. Vejo que, por isso, ela continua atraindo tantas pessoas que querem desenvolver algum tipo de pesquisa com ela.
Ana Maria já publicou dois trabalhos em parceria com a professora. Com os alunos, Berta cria uma espécie de família – dá ovos de Páscoa, presentes de Natal e ajuda no que for necessário. Até hoje ela mantém contato com a primeira turma para a qual deu aula.
A professora, há alguns anos, ficou pendurada na porta de um ônibus e foi arrastada por metros afora. Esse acidente prejudicou a sua capacidade de locomoção. Para compensar o problema, Berta conta com seus “fiéis escudeiros”: os taxistas do ponto diante do prédio da reitoria da USP.
O taxista Antônio Carlos de Oliveira lembra que foi Berta quem pagou as tintas da pintura do ponto, em 2010. Ele conta que as viagens diárias com a professora são regadas a muita risada e histórias.
- A Berta é fora de série. Todo ano ela faz uma feijoada em sua casa, vai tanta gente que começamos a entender aí como ela é querida. Dá gosto de ver que a professora faz tudo que faz por amor, mesmo. É uma pessoa que tem muita esperança.

Créditos: http://www.vidauniversitaria.com.br/blog/?p=86167

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